Um Sítio...Joaquim Vairinhos

Um Sítio...Joaquim Vairinhos
Poesia, Prosa e Música.

sábado, 9 de junho de 2018

Duas e meia duma tarde acolhedora
sugerindo apanhar sol,
beber café na esplanada pertinho do murmulhar suave da maré.
Caminho sem prévia intenção do lugar,
a Coral é a escolhida.
Numa fila do pré aguardo pedir e pagar meu café.
Sento-me virado ao azul e amarelo da praia
absorvendo sons e visões num relaxe apelativo.
Eis que ruídos guturais de bocas sequiosas alarmam, alardam, alarvam
momentos de silêncios insubstituíveis da ondulação.
São amantes da vozearia nadando em jarros de cerveja
mastigando fritas louras besuntadas de óleo de girassol.
Como dizíamos que eram ridículos nossos avós que para a
praia levavam a melancia, o garrafão e as botas.
Como dizíamos que eram ridículos nossos avós, cujos corpos
cobriam e faziam da jornada de praia uma alegria,
sem berros, gritos e nudez apimentada.
Como dizíamos que eram ridículos nossos avós que chapinhavam na areia molhada da maré baixa.
Como dizíamos que eram ridículos nossos avós que se
enrolavam na bóia preta.
Perdoa-me avó que nos teus silêncios, de óculos escuros redondos, nos vigiavas com toda atenção na sombra de um toldo de pano de colchão.
Vezes sem conta tenho saudades desse tempo em que o dia de praia era de comunhão !
Joaquim Vairinhos, in "Confissões".
Almada Negreiros, The Bathers (Portugal, 1925), Pinterest.

Nenhum comentário:

Postar um comentário