Um Sítio...Joaquim Vairinhos

Um Sítio...Joaquim Vairinhos
Poesia, Prosa e Música.

domingo, 24 de fevereiro de 2019

Outro Tempo

No teu perfume cobri-me de odores de mil e uma noites
Fluí nas ondas étereas da magia de tua cama feita tapete
Percorri florestas incandescentes pelos raios de sol do meio dia
Borboleteei entre pétalas douradas com mil cores
Abri minhas veias aos raios prateados da lua
Cobri-me de mantos e mantos de véus da via láctea
estrelados no deserto da escuridão com vaga lumes
Naveguei por entremares  pelo sonho pela ilusão
Voei sem asas nas ondas da tua louca inspiração
Entreguei-me nas tuas mãos trémulas sôfregas de desejo
Adorei sofrido perseguindo um tempo cruel desumano
Fomos felizes no momento de outros tempos.

Joaquim Vairinhos



Nas profundezas da noite
mergulho inquieto

vem embalar com teu doce requebro
meu sono desperto
que se faz dia sem razão

traz teu olhar de mel
teu calor na pele
música no corpo
alegria no teu rosto

vem

dia está chegando
quero adormecer contigo
no sol nascendo.

Joaquim Vairinhos.
Arte de Pablo Picasso, "Nu Accroupi"
 

sábado, 23 de fevereiro de 2019

Imagina que tenho língua de cetim
lábios de seda
dedos de mel e oiro
e lambo teu corpo em pontos sensíveis

no ouvido chamo
desejos

nas costas com minhas unhas
inscrevo todos os nomes carinhosos
na plenitude de uma adoração

imagina que me dizes beija-me
beija-me ...

colho-te como uma flor silvestre
numa pradaria de papoilas e bem-me-queres

(como seria não me sai da imaginação...)

JV.

Noite chegou mais cedo
agora ainda  jovem
leva-nos a recolher
na sua sombra,
com formas variadas
piscando na humidade das calçadas,

amigos melros negros de bico amarelo
já não se ouvem
os piscos cinzentos
visitantes do quintal já se calaram
ouvem-se latidos de cães
começam
a guardar a casa

aroma da planta dama da noite
esperou pela humidade do orvalho
que invade o ar

Manuela,
mariposa bela
começa a maquilhagem

fregueses não podem esperar
começa a noite triste

e bela noite

dez horas para reinar
numa vida em mercado

Joaquim Vairinhos.
Google - imagem.
Sombras da chuva trazem encapuçados
de ambições paridas nas cartilhas
de sofás dominantes :

o banqueiro profeta que prega
aguenta aguenta
saldou juros na banca

o ministro que discursa sejam rigorosos
torna-se doutor por compra

o matemático ministro que é universitário
mede a velocidade de leitura da criança

o ministro pastel de nata que é emigrante
regressa para ordenar que outros emigrem

um presidente para uns atuante
adormece nos braços da sua maioria
interessante
joaquim vairinhos, 23/02/201

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019

Tristeza é um estado
de alma ferida
aspirando mudança,

da tristeza não se faz guarida

subir nela ao horizonte,
naquela linha comprida
onde se une à terra,

metade sombra...metade sol...
metade dia...metade noite...

lutar pela metade alegria,
pôr fim na tristeza,

fiz o que competia.

Joaquim Vairinhos

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

hoje fui adotado pelos meus vizinhos gatos : nomeadamente uma gatinha...deixei de estar só...dorme à minha porta...conhece-mo-nos no dia dos gatos...

gata

e quando ela se roça
de pele arrepiada
com seus olhos verdes
para mim apontados
fico sempre sem saber
se tem fome
se quer carinho
porque o faz tão de mansinho
que me parece
querer amor

que hei-de fazer
a esta bela gata
simpática
que faz
todos os gatos correr
parece-me
que a querer
a querer...

agora enrola-se
na minha porta
da noite
ao amanhecer
espera-me
roça-se
a querer
a querer...

joaquim vairinhos
quando nasci não sabia ao que vinha(l)

terra sem doutores
com uma bisavô muito fina
pai na guerra nos Açores
uma curiosa parteira Serafina
e mãe a gritar com dores

vai passar dizia a bisa
isso não faz mal

eu nada entendia...nada via
nada sabia
mas que mãe gritava sentia

a coisa ficou torta
quando me puxaram pela cabeça
escorreguei
agarraram-me pelos pés

nada mal...um bom rapaz
e vá de me dar palmadas
até que ...porra !
comecei a berrar

tinha nascido nada mal
um mancebo em Portugal
com a benção de Deus
numa humilde casa
no centro de Loulé

só vim a saber que estava
em Portugal :
- quando os adultos
se calavam à minha chegada

- quando meu vizinho mais querido
foi preso de madrugada

- quando minha mãe ficava em casa
enquanto meu pai votava

- quando minha bisa
me avisava : evita esse teu amigo

mas era do Frank, húngaro,
judeu
que eu mais gostava...

Joaquim Vairinhos, in "Confissões".

terça-feira, 19 de fevereiro de 2019

Suaves desejos como brisa leve
ocorrem na sedução quando dois seres
se querem alados em seus corpos

ter e ser

a suprema ambição
que as almas guardam
em leves e doces arcas para a ocasião

será a seara cautelosa
que segura corpos em sementes
tão ansiosos 

terra de amor em sua sinfonia
tem todos andamentos que amor cria

Joaquim Vairinhos.

sábado, 16 de fevereiro de 2019

Noutro dia talvez, quem sabe, poderia acontecer o que não aconteceu. Não passou daquele beijo receoso, tímido.

Nas esquinas dos dias vamos arrumando tudo o que achamos importante. Não arrumamos nada. Olvidamos o mais necessário. O amor.

Depois inventamos  - o dia. Para hoje datamos o dia dos namorados. Amanhã já será outro dia. Colocado o amor na gaveta vamos continuar no que julgamos importante.

Joaquim Vairinhos


sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019

Eram dez da noite

uma noite de lua cheia
namorados passavam de mãos
oferecidas
na esperança
do amor de suas vidas

e tu não vinhas
tu não chegavas
minha inquietação aumentava
sempre na esperança
de te ver dobrar a esquina

porque tardavas ?

que se passa 
meu amor não chega

tu não vinhas 
destino malfadado
que me leva a esperar
o amor encontrar
como se a estrela que cai
na noite escura do céu
fosse por mim mandada

mulher só ama
quando está apaixonada.

emílio casanova
Brisa suave dança nos olhos em contra sol
quando atravesso as pedras da avenida,
e o mar ali tão perto me integra há tanto tempo.

Verões quarteirenses brilham nas palmeiras.

A meu lado cruzam-se todas as forças da calçada,
olham para mim num olhar tão suspeito
sem trânsito que não passa por ali
que até o sol se descobre em vénia pelo feito.

Joaquim Vairinhos.



Não anoiteças sem mim

Vem,
vem sentir o ar
de navegantes ao ritmo
do encontro
das ondas do amar,
em gotas de sal
raiadas do sol
no embalo doce lunar.

Vem com as asas
de gaivotas famintas
mergulhadas em correntes de vento.

Vem pelo azul do horizonte,
porque se faz tarde
abraçar teu amante.

Vem, não anoiteças
sem mim...

emílio casanova, in "Maria"
Deixei de ir a funerais quando senti que os defuntos puxavam por mim,
liam meus pensamentos

e aqueles ares tão pungentes 
nas filas de cumprimentos dos acompanhantes
faziam-me mal

e aquelas palavras de ocasião 
misturadas com máscaras faciais de tristeza,
meu deus davam tanta impressão 

decidi definitivamente,
funerais só o meu tem minha participação,
e quero minhas cinzas no mar como colchão .

Joaquim Vairinhos.