Um Sítio...Joaquim Vairinhos

Um Sítio...Joaquim Vairinhos
Poesia, Prosa e Música.

sábado, 30 de junho de 2018


Amor nunca acaba
enrola-se na vida
com raiva...
transforma-se na mente
e acompanha-nos
sempre
habitando numa eterna
saudade dentro
da gente.
JV
9 
Na encosta diminuta e suave que avisto de casa
segue a estreita estrada marcada pelas oliveiras
cobertas agora de brilhantes frutos negros que mais
tarde iluminam nossos corpos e nossas almas.
Vejo amigos elegantemente vestidos de negro,
como sempre com sua gravata colorida,
seus bicos laranja se destacam e debicam
na terra escura esverdeada coberta de frutos.
Revoam, chilreando na passagem do velho carro,
desafiando crianças compenetradas a caminho da escola,
que a hora silenciosa comanda.
Os melros pensam.
Janelas já se abriram, gatos espreguiçando-se
nos parapeitos espreitam a criançada.
Sol sabe que os anima.
Dos vidros da janela observo
este bucolismo e silêncio a que pertenço.
Café na cozinha traz cheiro distinto, envolto
em fumos de curvas insinuantes que me associam
a momentos de tempos tropicais asfixiantes,
reconfortantes, sensuais.
Sabor na boca, pensamentos na mente, de café em café
me transporto para outros horizontes.
Outras gentes de sempre.
Joaquim Vairinhos,
"...nesta terra de Loulé, onde minhas raízes, meus ramos, minhas folhas, minhas flores...cresceram.
Ao longo dos anos fui descobrindo novos mundos que me transformaram para sempre.
Apesar disso busco em ti as minhas raízes..."...
...........................................................
......." Sim, outrora eu era de aqui; hoje, a cada paysagem, nova para mim que seja, regresso extrangeiro, hóspede e peregrino da sua presentação, forasteiro do que vejo e ouço, velho de mim.
Fernando Pessoa in Livro do Desassossego, I, p. 124."



Que a indignação passava de moda
poderia ser um dado adquirido
mas esperar a indiferença ficar estrela
e contentar-se com dar esmola
é sinal que anuncia um caso perdido.
Indignem-se apregoam os diferentes
que canseira essa de pensar nos outros
se caridades das boas almas são suficientes
para alimentar esses pobres monstros
deitados nas pontes com cheiros indigentes.
Assim vamos nestes dias de descontentamento
esperando a justiça da indiferença, talvez
um presidente tenha mais para dar, que silêncios
como sobremesa de restos caridosos, recolhidos
em jantares de restaurantes do momento.
Joaquim Vairinhos, 28 de maio de 2014.
Foto de Nuno Matos.

Ser português
O mar de sono que submerge
me enterra neste fado
é parte do meu quotidiano
de carne e ossos num corpo amassado.
Quem o acode, quem o sacode
em veleiro naufragado
deste sono que se aproxima, profundo
em fins de vida intensa
com teorias, dogmas e poesias,
e outras coisas deste mundo.
Quem me salva deste único caminho
servidão marcada no destino
que enraíza nesta terra sem pão,
sem chão, sem grão,
onde germinam braços de solidão.
Joaquim Vairinhos, 25 de Abril de 2014

"E neste cheiro a podre milenário –
vale a pena se quer dizer que são
filhos da puta ?
……………………………Jorge de Sena."
Com este cheiro podre de figurantes
paridos numa democracia mirabolante,
vale a pena se quer dizer que são
filhos da puta ?
Quando os malandros
ganham sempre as guerras,
há aqueles jovens patriotas
cheirando a naftalina de armários
dum estado novo, arautos
daquela velha esperança,
vale a pena se quer dizer que são
filhos da puta ?
Quando os patriotas
que mandam os velhos morrer,
os jovens emigrar, multidões públicas
para o massacre da pobreza,
vale a pena se quer dizer que são
filhos da puta ?
Eu protesto, tu protestas, ele protesta,
e eles nada mudam
ou mudam ainda mais,
vale a pena se quer dizer que são
filhos da puta ?
Joaquim Vairinhos, (com Jorge de Sena ) de 11 de Abril de 2011

Acordei em Copa
Sol brincava com teus cabelos
senti seus longos dedos matinais
primaveris, acariciando meus olhos
sonolentamente preguiçosos, bocejei
na decisão, larguei lençóis,
teu calor e,
saí para a calçada bem pisada da
adorável Copacabana
misturei-me com todos aqueles cariocas
apressados em caminhar,
caminhar por caminhar
muitos deles sem olhar, a beleza do mar
eram carreiros humanos rotinados,
autómatos de formigueiro
e, tão belas ondas do mar ali,
tão perto do olhar
passei por Drummond
eternamente sentado,
por Dorival carregando seu violão,
o poeta e o músico deliciados
nas curvas belas das princesinhas do mar
que se lhes juntavam a fotografar
levantei o olhar para longe
fui até ao Pão de Açúcar
invocando deuses e Iemanjá,
lamentei a vã ilusão humana
quando não temos...queremos,
quando temos não vemos,
Copa bela Copa
beleza como a tua não há.
Joaquim Vairinhos, Maio 2013

sexta-feira, 29 de junho de 2018

Beth Hart - Caught Out In The Rain

Las Tres Grandes - Gracias a la Vida

QUANDO EU MORRER
QUERO QUE DEITE AS CINZAS
ONDE GOSTEI DE VIVER,
E VIVI TÃO POUCO, TÃO POUCO MEU DEUS,
SEM DOR !
QUERO QUE AS DILUAM NO ATLÂNTICO,
NAQUELE SÍTIO ONDE NÃO NASCI
NASCENDO SIM.
NO ARPOADOR,
ONDE AS ÁGUAS SE CRUZAM DE COPA A IPANEMA,
COM MORRO DOIS IRMÃOS NA VIGIA,
JARDIM D’ALÁ COMO COMPANHIA E A LAGOA VIZINHA.
QUERO QUE AS MINHAS CINZAS REVIVAM
O QUE NÃO VIVI !
NÃO ESQUEÇAS, SIM !
JV
J’aime
CLASSE MÉDIA- MAX GONZAGA.
MULHERES

Para não cair na tentação de esquecer,

vendo e ouvindo Portas na televisão
os deuses estão loucos
o homem não é parvo
sabe que precisa de nos enganar
não nos fazendo de parvos
mas querendo que o sejamos,


interrogo-me : devo estar meio louco
já o fiquei quando Natália partiu
e sofri quando Florbela me enganou


o que me consola são acordes do concerto
l’estro armonico de Vivaldi
ou deveria estar correndo pela
via do infante desafiando
ou bebendo cerveja às oito da manhã
com peixe frito
pastando meu olhar não dormido
ali no mar bem perto


penso que sou um homem comum
com pancadas românticas pela Sofia
pela Florbela e por aquela que deputou
a ilustre Natália


conheci outras dormi com elas
no meu travesseiro
bebi-lhes o sangue verde
o suor do preconceito nos
intervalos dos seus versos e
como cavei na horta da Teresa,


eis que Portas desabafa :
é preciso apresentar qualquer coisa
que permita uma sétima avaliação da troika
positiva


aqui enlouqueço
vamos na sétima charingadela do povo
sem tirar de cima
conheci muitas e penso
como estarão agora


lembro Bukowski
neste instante eles estão charigando
outros desgraçados


vejo Portas na tv
parece um franciscano
discursando sua teologia
de libertação dos pensionistas
anunciando aos portugueses
tenham calma : sou o papa deste
governo…


e aqui não sei para onde correr
se subir à montanha
da mãe soberana ou se
enlouquecer.
joaquim vairinhos, in "...tanta coisa para dizer..."
foto tvi
Louco dia a dia
Enlouqueço todos dias um pouco,
umas vezes de manhã
outras à tarde, outras à noite,
questão de sobrevivência neste mundo louco.
Não busco farmácias,
não entro em tabernas nem bares,
não mergulho em paixões de ocasião,
às vezes alinhavo uns versos
discuto com palavras desnecessárias,
aliso ondas do pensamento,
Danço melodias imaginárias
em braços que já não encontro
só louco me resigno ao desencanto.
Se ideologias me seduzissem talvez
resistisse, se projectos me procurassem
talvez me envolvesse,
se uns olhos doces me cativassem,
talvez dia a dia enlouqueceria de vez.
Joaquim Vairinhos, Quarteira.
J’aime
PORQUE RAIO ME DEIXEI SEDUZIR PELA TUA CAPA
Joaquim Vairinhos à AFRODITE, Livro de Poemas....Joaquim Vairinhos
Folha a folha
fui descobrindo teu livro
lendo
claro que primeiro
me atraiu tua capa
formosa
apelativa
colorida
bem apresentada
agora sei
claramente
tua marca
de página em página
letra sobre letra
palavra sobre palavra
busquei a descoberta
não vi versos
não vi poemas
nem poesia
vi teu livro
de tua alma
nem sombra
és só capa
a essência minha cara
está na alma
a beleza no espírito
tua capa e
contra capa prosaica
são uma armadilha
lembra uma ilha
querendo conquistar
terra
assim não
não mudes a capa
educa a alma
joaquim vairinhos,
ilustração:Salvador Dali
Joaquim Vairinhos à AFRODITE, Livro de Poemas....Joaquim Vairinhos
porque marilyn não amou pessoa
ela não sabia
nem podia imaginar
o que fazia despertar nele
se soubesse deveria tentar
amar aquele homem discreto
às vezes ausente
não porque ele o quisesse
parecer
era assim sua índole
afastado reservado
mas dentro dele
era um vulcão
em ebulição por aquela
mulher que nada fazia
para corresponder :
nem sorriso nem olhar
de desprezo sequer
nem cumprimento
pensar não resolvia
era preciso atuar
assim um dia
abordou a senhora
com bons modos
e delicadas maneiras
ao qual ela correspondeu
sem descortesia
referindo-lhe simplesmente
com verdade
que o amor não escolhe
quem amar
ela não tinha por ele
sentimento e nada
servia tentar porque
o amor quando se tem
por alguém é dádiva
que se deve guardar
cuidar e enriquece
quando se é
correspondido
e, assim fernando em pessoa
não amou mais ninguém...
teria sido assim ?
joaquim vairinhos

quinta-feira, 28 de junho de 2018



É preciso aprender a amar
entre a multidão,
escolher o momento
da apresentação para me habituar a ti,
sentir que me farias falta
com saudades na ausência,
ficar subjugado pela fascinação,
encantar-me nos contornos
dos teus seios,
na profundidade do teu olhar,
na doçura do sorriso
imaginar-me percorrendo
caminhos da tua alma
ansiar pelo momento do encontro,
receando poder não agradar,
querer que a inteligência te consuma
em atos de moderna vivência,
num amor partilhado.
É preciso.
Joaquim Vairinhos,
Quadro de Amadeo Souza Cardoso- Don Quixote.
Nos teus cabelos de seda
enrolo meus dedos
em novelos de segredos lascivos
Como escorrem pelo teu dorso
pelos meus beiços na textura de crina
Cavalgo-te em ancas ondulares
formosas e sadias
Como te imagino equina
em pilares marmóreos de espuma
voando na linha dum horizonte
bem perto da magia.
Joaquim Vairinhos, 
Acordo por volta das seis
começo a trabalhar sonolentamente
olhos meio fechados
sol penetra nas frestas da janela
a sensação é de levitar
imagens sobrevoam na mente
flashes de acontecimentos
invadem minha sonolência
espero que venhas
com ternura do teu abraço
no respirar meio ofegante
no sentir do coracão
em querer abalar do peito
onde estava encerrado
assim começa o dia
desembaraçado da monotonia
tranquilo
na simplicidade dos gestos
numa inspiração permanente
umas vezes indolente
outras acelerada
sorriso profundo...sim
de contentamento.
Joaquim Vairinhos, 28/06/17.
Vieira da Silva.

quarta-feira, 27 de junho de 2018

Happy Hour,
step by step
minuto segue minuto
dia trás dia,
copo trás copo....
tempo vai fluindo
como água entre os dedos....
interessante.....
a melhor forma
de se sentir viver...
será...
no fim do dia
a catarse da fobia
com copo na mão
que maria
na rua
no balcão
balança seu coração
espumando
em chop by chop
escondendo
na loirinha
os longos minutos do
regresso
para recomeçar
novo dia.
JV
Poeta,
ser poema, e não poeta
belo desafio esse
viveres como poesia
desde o dia que nasceste
ser luar, e raio de sol
batida de asas de beija-flor
ser flecha de cupido
muito melhor
que escrever de improviso
ser seiva de caule florido
olhar de criança
calor de casal amante
sangue de touro enraivecido
muito melhor
que palavras sem sentido
onde vais tu poeta?
és caminho passageiro, viajante
és nuvem deslizando.

© Joaquim Vairinhos
(Ao abrigo direitos de Autor)
Terra sagrada
de crinas florindo
trigo em pão
uvas em vinho
pastando na pradaria
bela é a natureza
suas filhas
de lábios maduros
farinha no ventre
éguas de longas
tranças crescem
como se aninham
guardando
no brilho das espigas
de fêmeas
as esperanças
mães amantes
como seduzem
natureza
nas filhas lindas.

© Joaquim Vairinhos
(Ao abrigo direitos de Autor)