Um Sítio...Joaquim Vairinhos

Um Sítio...Joaquim Vairinhos
Poesia, Prosa e Música.

sexta-feira, 31 de maio de 2013



Pelos caminhos das palavras
constroem-se sonhos,
amores.

Nos acordes dos pesadelos,
ódios mastigam intrigas.

Lavras desejos,
adormecidos no tempo,
cobertos de medos.

Belos os anseios
que ligas a fantasias.

Vida cresce
entre os dedos da gente,
esperança em chama
que não alimenta segredos,
devora sim.

Quem adora.

emilio casanova

terça-feira, 28 de maio de 2013


Caminhando e pensando, dirigiu-se à redacção do Notícias da Terra.
- Então foi você que descobriu o homem ? – sussurrou uma voz interrogativa, mal abriu a porta do seu gabinete de trabalho. Surpreso procurou descortinar na sala escura o intruso que o questionou. – Deduzo que seja agente da judiciária – proferiu incomodado com a presença de um estranho no seu reservado gabinete, tentando perscrutar o rosto desconhecido. Tiago não se estava a sentir bem por aquela atitude impertinente do policial, mas era assunto para falar com Francisco, mais tarde.
- E você quem é – interrogou com um tom de voz nada amistoso.
O agente disse quem era pedindo desculpa pela forma pouco diplomática de aguardar sua chegada no seu gabinete.
- Sabe, não costumo encontrar estranhos no meu espaço privado - mas já que está, diga ao que veio, pois tenho muito que fazer - acrescentou com algum azedume na voz.
- Fui destacado para investigar o caso do milionário, cujo corpo você encontrou na praia – disse o policial com ar sereno procurando quebrar o gelo entre eles.
- Ah!, sim, e que quer saber concretamente ? – questionou  Tiago dirigindo-se à janela para abrir um pouco a cortina de forma a ver bem o rosto do seu interlocutor. - Simples questionário de rotina – afirmou o agente erguendo-se da cadeira, levando a mão esquerda à orelha, ajeitando os piercings.  Colocadas algumas questões de rotina que Tiago rapidamente respondeu, o agente dirigiu-se para a porta, - e, desculpe minha intromissão – quando precisar é só ligar - deixo-lhe aqui o meu cartão – exclamou, batendo no seu ombro com um ar familiar.
- Bom resultado na investigação – desejou à laia de despedida. Tiago estava a ficar nervoso e estressado, “até ao momento nada tinha escrito sobre o caso, pouco sabia sobre a investigação, contatos ainda não os tinha, sem ponta por onde lhe pegar “, gritou exaltado : - Francisco venha aqui ao meu gabinete já! – Como foi capaz de permitir a entrada do inspetor – acusou, olhando fixamente o jovem, que nada amedrontado se limitou a exclamar que não tinha autorizado, ele é que se tinha feito convidado e entrou diretamente sem pedir licença. “Que descaramento têm estes jovens , e a forma como se apresentava vestido e, seu corte de cabelo , pensava Tiago olhando par o seu colaborador com um olhar fixo tentando vislumbrar algumas semelhanças entre ele e o policial” – Por acaso conheces o tipo ?- disse com um ligeiro sorriso trocista.
- Não é dos meus relacionamentos, conheço sim uma estagiária com quem às vezes faço sexo – respondeu sem hesitações.
- Uma estagiária, na delegacia ? – questionou com alguma ansiedade.
- Uma estagiária, sim, na delegacia – respondeu Francisco.
- E só agora me dizes ?
- Porque dizer da minha vida sexual ao meu chefe ?- exclamou com um enorme sorriso. – Por acaso você me diz a sua ?- disse Francisco com ar trocista.


segunda-feira, 27 de maio de 2013



Como é vã caminhada,
que rejeito !

Transporto braços
sementes do tempo, 
coração dentes de fogo,
cabeça castelo de cinza
e, caminho: com pedras na garganta 
pintadas de sonhos,
mal geridos por mentes brilhantes.

Pensamentos amargam língua de homens e,
seios de mulheres 
que se ligam nas redes
douradas...criando tramas
na espiga do tempo,
que transporto
com retalhos de história.

Mergulho nas colinas de camas cobertas
de flores silvestres : como preparando sonhos.

Imagino a beleza de os criar : engravidando
espíritos em arcos de luz...prenhes de sensações.

Sim...
porque como diz o poeta - a vida cabe
nos sonhos. Por aí caminharei !

Emílio Casanova.

sábado, 25 de maio de 2013



peso do amor

disseste outro dia
amor não tem peso
que amor não se media...

então, porque
perguntas todo o dia
se te amo
se te quero muito

quando digo: sim,
queres sempre saber
quanto...
e, sem questionares
queres saber até quando...

será que amor não tem peso ?
será que amor não tem medida ?
será que amor não tem tempo ?

porque dizes : já vais
tão cedo ?
porque queres saber quando
volto ?

acho que amor tem peso
tem medida

grande amor é pesado como
a terra...
grande amor é enorme como
o firmamento...
grande amor quando vivido
tem o eterno tempo...

emilio casanova, in " Jardim dos Deuses"

sexta-feira, 24 de maio de 2013



Como ser feliz ?
Dilema da humanidade.
Busca sem fim,
divino desejo
mantido por séculos
em folhas sagradas,
onde palavras
constroem metáforas
de poesia
que dança em saias
de estrelas,
se mira num espelho
de mármore,
se enlaça na magia
dum luar de abril,
se abre cada primavera
em cheiros e cores mil.
Como ser feliz
na humanidade
com sementes de infelicidade ?!
Natureza em cenário
para turista usar
não tem vida com certeza!
Todo ser tem
o querer bem viver
na paz da beleza, dum mundo
irreal. Como sobreviver
na selva em tons de cinzento,
se as páginas da poesia,
dos cânticos,
foi coberta de cimentos ?
Como construir o sonho em verde
se arco íris
navega ainda em barca,
sem fé nem crença ?
Olhar alto bem longe,
guardar-se no silêncio
da simplicidade,
viver com menos,
buscar sabedoria na serenidade ?
Será uma via...

Emilio Casanova


Curvas envolvem
instantes,
panos de linhas
escurecidas,
de bom traço,
não escondem
belezas brilhantes
são como disfarces,
de borboletas,
enaltecem o belo,
atraindo
sempre com prazer.
É assim corpo dela,
mulher inteligente
e bela,
quando se mostra
ao sol do verão,
ou, ao olhar singular
de seu amante.

emilio casanova, in "15 Poemas para Ti"

terça-feira, 21 de maio de 2013




Acordo sentindo no meu
colo
teu corpo de mansinho
estremecer
afago teu rosto
respiro teu cabelo
acaricio teu dorso com minhas
mãos e língua
ao desafio.

Foi assim que neste domingo
você até tão tarde
não dormiu
quis dizer-te bom dia
sentindo-te vibrar
fazer-te sorrir no meu
olhar
consegui apesar da hora
tardia para mim.

Pulei na água tépida
comi na tua mesa com toalha nova
sob teu olhar
tudo que preparaste :
pão e queijo
suco iogurte e café.

Mas
o que mais me apeteceu
e, queria
era no teu olhar ficar
para te admirar
para te adorar
para te beijar
para te amar até ao fim do dia
e,
assim no domingo passar...

emilio casanova

segunda-feira, 20 de maio de 2013

"Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos ! ser gauche na vida . (...do poema de C.Drummond - Sete Faces)."



Vai, Carlos ! pelos caminhos da literatura
quanto sofrimento, tanta paixão
da poesia à prosa, tamanha loucura.
Viagem da mente humana
sua representação e esperanças
sua verdade e memória.
Pela escrita Carlos, navega-se,
dobram-se cabos de tormentas,
transgride-se, conforta-se.
Na liberdade da poesia, de angústia
em alegria, não se busca a vã glória,
procura-se filão de felicidade.
Vai, Carlos.


Joaquim Vairinhos

"O bonde passa cheio de pernas
pernas brancas pretas amarelas.
Para quê tanta perna , meu Deus,
pergunta meu coração.
Porém meus olhos
não perguntam nada. (...do poema de C.Drummond - Sete Faces )"




No matraquear de ruídos da cidade,
muros de multidões cobrem chão,
secam searas enterram sombras.
Correm pés movem joelhos ao milhão,
marcham pernas brancas pretas amarelas.
Atrasadas sem tempo, correm correm
na procura do regresso a casa.
Fingem sorrisos meu Deus
como tocando instrumentos de alegria.
Meus olhos cobertos de cidade
passando pelo dia, não perguntam nada
buscam serenidade.

Joaquim Vairinhos

sábado, 18 de maio de 2013



nessa vertigem do olhar 
em mundo espiral
desintegrei 
qual búzio encostado 
ouvindo o mar
sintonia de caleidoscópio
formas
luz e cor
em simetria
asas de mariposas
pétalas e corolas
dançando ao som
do murmúrio
das cristas onduladas
brancas
saltitando no mar
verde de azul
mescla primordial
nos ais suor
e sal
tudo mais
que a imaginação reconstroi
nos humanos impulsos
de renascer
no sabor de um olhar 


joaquim vairinhos

quando pensas será aquele
será aquela
sobre a muralha de
castelos de nuvens esvoaçando
sentindo que finalmente tinhas
encontrado...

(será que pode
alguém dizer: por fim,
encontrei um grande
amor,
meu grande amor ?)

se disserem
és minha princesa
és meu
príncipe encantado

fiquem desconfiados que
ninguém mais acredita
em alguém

olhem bem para o lado
para cima para baixo
será possível neste modelo
social ainda alguém esperar
pelo seu grande bem

que valor tem hoje o amor
a ética
num mundo predominante
de relações económicas

lógica linguagem:
a troca
relacionamentos de laços
íntimos sem paixão
racionais
em tendência cada vez
mais utilitária

interessa ?

vem comigo
diz-me :
ganho contigo

joaquim vairinhos
Ladainha dos Póstumos Aniversários
(adaptação do poema Ladainha dos Póstumos Natais de David M. Ferreira)



Porque 17 de Maio é dia de Aniversário.

Há-de vir um Aniversário e será o primeiro
em que se veja à mesa o meu lugar vazio.
Há-de vir um Aniversário e será o primeiro
em que hão-de me lembrar de modo menos nítido.
Há-de vir um Aniversário e será o primeiro
em que só uma voz me evoque a sós consigo.
Há-de vir um Aniversário e será o primeiro
em que não viva ninguém meu conhecido.
Há-de vir um Aniversário e será o primeiro
em que nem vivo esteja um verso de meu livro.
Há-de vir um Aniversário e será o primeiro
em que terei de novo o Nada a sós comigo.
Há-de vir um Aniversário e será o primeiro
em que nem o Aniversário terá qualquer sentido.
Há-de vir um Aniversário e será o primeiro
em que o Nada retome a cor do Infinito.

Joaquim Vairinhos


tridimensão de espaço
corporal
composição em sinfonia
cálice e harpa
percorrem
lascivas entranhas
de cascatas vermelhas
suores de odores
levantam cálice
em delícia superior
livre tempo
penetra
nos regaços de ais
belos prazeres


joaquim vairinhos

Não troco o prazer do meu silêncio
por qualquer companhia :
não que o meu silêncio seja de ouro
não que o meu silêncio seja de prata
não que o meu silêncio seja diamante

Ser cresce nos silêncios :
sonha
fantasia
imagina
deseja
ama e cria

Não troco o ouro do meu silêncio
não troco a prata do meu silêncio
não troco o diamante do meu silêncio

por qualquer companhia

[By Emilio Casanova]


No cambio el placer de mi silencio
por la compañia de cualquiera:
No es que mi silencio sea oro
No es que mi silencio sea de plata
No es que mi silencio sea un diamante

el ser crece en silencios :
de sueños
de fantasías
de imaginación
de deseos
para amar y crear

No transo el oro de mi silencio
No transo la plata de mi silencio
No transo los diamantes de mi silencio

por la compañía de cualquiera

[Traducido por Alfonso A. Tobar/ TheX]