Acordei em Copa
Sol brincava com teus cabelos
senti seus longos dedos matinais
primaveris, acariciando meus olhos
sonolentamente preguiçosos, bocejei
na decisão, larguei lençóis,
teu calor e,
saí para a calçada bem pisada da
adorável Copacabana
misturei-me com todos aqueles cariocas
apressados em caminhar,
caminhar por caminhar
muitos deles sem olhar, a beleza do mar
eram carreiros humanos rotinados,
autómatos de formigueiro
e, tão belas ondas do mar ali,
tão perto do olhar
passei por Drummond
eternamente sentado,
por Dorival carregando seu violão,
o poeta e o músico deliciados
nas curvas belas das princesinhas do mar
que se lhes juntavam a fotografar
levantei o olhar para longe
fui até ao Pão de Açúcar
invocando deuses e Iemanjá,
lamentei a vã ilusão humana
quando não temos...queremos,
quando temos não vemos,
Copa bela Copa
beleza como a tua não há.
Joaquim Vairinhos, Maio 2013
nunca soube seu nome
se era de planta pássaro ou lugar
sei que tinha silêncio de
melancolia cintilante nas íris do olhar
talvez maria
como o oiro do trigo
nos lábios da terra
alentejana
quem sabe isabel
nesse profundo olhar
da sombra do vento
que passa nas tardes
redondas do sol pôr
apertei suas mãos
como se fossem novelos de lã
levei-as aos lábios
como se acaricia água cristalina
da fonte ou a pele suave
de criança
soltei seus dedos
para a liberdade das palavras
que dançaram
na magia do momento
soletrei esses versos
como estrelas
na cadência das batidas
de sangue invadindo como chuva
a planície do ventre
nuvens de seda
brotavam dos lábios
em murmúrios cúmplices
de areia
invadida pela energia
das ondas brancas
da maré cheia
a deusa que julguei ausente
viajou na brisa suave
de espumas livres
nas esquinas da mente
Joaquim Vairinhos, in "Confissões"
Foto de Fernando Romão-Seara Alentejana.
correm aqueles pêndulos
em suas pontas de marfim
inscrevem nas águas
palavras ditas sem fim
são seios de verdes folhas
castrados em prazeres de lágrimas
são lábios em ramos de cetim
rios de florestas sem mágoas :
se corpos se liquefazem
nas tranças molhadas
se bocas bebem fogos
daqueles mares de oceanos
se chuvas cobrem sombras
dos princípios iluminados
são cenários de alma
naquela busca eterna de mim.
Joaquim Vairinhos