Um Sítio...Joaquim Vairinhos

Um Sítio...Joaquim Vairinhos
Poesia, Prosa e Música.

quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

não consigo crer no natal
por mais querido que me cerque
nas miríades
de focos de luzes coloridas
perante as desgraças do mundo
esquecidas

Joaquim Vairinhos
Pelos caminhos da literatura
quanto sofrimento
quanta perplexidade
quanta loucura
da poesia à prosa
de Borges a Saramago
de Tolstoi a Proust
de Joyce a Dostoiévski
de e.e. Cummings a Dylan
de Florbela  a Pessoa
de Camões a Sá Carneiro
de... a ...Drummond

Tentativas continuadas
de superação em superação
através do espírito
sua representação
sua esperança
sua memória
em viagens da mente humana.

Pela literatura dobra-se o cabo
das tormentas.

Viaja-se em atividade iniciática
na abordagem da escrita:
vai-se pela angústia
na busca de caminhos novos
para expressar sentidos
superar fora dos limites
a bendita normalidade
num trabalho de confronto
com sua própria psique.

Procura-se esse filão
da felicidade na normalidade da
anti-felicidade.

Encontra-s em pequenos flashes :
a serenidade a magia a solidão
o prazer a memória a paixão.

Joaquim Vairinhos, in "Só & Cia "
Arte de Cláudio César(artista amigo do RJ/Fortaleza) falecido há pouco.
Acaso sabes o que é solidariedade na doença
quando ficas só questionando tua voz
em silêncios da consciência atormentada
com pertinentes presenças que te incomodam
num estado de fluidez latente que te vai dominando,

acaso sabes que a fronteira é tão diminuta
entre o estar o ficar o ser que não estar não ficar não ser se confundem, se misturam numa mescla
estranha de paz confortadora,

acaso sabes que a partilha na infelicidade da desarmonia física transporta o ser humano
para o sentimento náufrago do afogamento,

acaso sabes que o ombro solidário não é do amigo,
sim do outro que navega no mesmo estado de desarmonia vogando à deriva no desconforto,

acaso sabes que a vida é só tua, construída
no dia que nasceste,
prosseguida dia a dia, minuto a minuto, ano a ano,
nos sentimentos que bebeste, nos ódios que suaste, nos afectos que investiste,

acaso sabes que tudo termina em vaga libertadora
desconhecida no calendário do teu tempo
sem pregões anunciadores do momento da partida,

acaso sabes que do nada vieste e para o nada vais
com ou sem sobressaltos deixando uns rastos que se esfumam no movimento sempre em frente,

acaso sabes que na hora da partida a tua comunidade por herança ancestral vai perdoar e limpar os desvairos que encontraste ao longo da vida

acaso sabes que nada sabemos, nem donde viemos, nem para onde vamos...nada !

Joaquim Vairinhos, 26/11/17.
montanhas de espuma cavalgam-se
sobre si próprias ininterruptamente
até desfalecerem nos braços morenos
dos milhões de grãos de areia
que as recebem humildemente

tudo muda no levante
que os transforma em milhares de migrantes sem costa certa

são como cidadãos de outro mundo
levados pelas mãos de elites indigentes

bem clamam jovens despertos
do engonhar dessas gentes
que fazem do mundo coisa sua

até quando
os povos quais ondas humanas
não os empurram para fora de suas cadeiras mundanas ?


Joaquim Vairinhos, in "Poemas Vadios", a publicar em  2020.