sexta-feira, 15 de novembro de 2013
Lavo do orgulho impurezas de ciúme
convencido que as flores rústicas
não eram para meus olhos,
seguem sempre seu caminho
emergentes da sua pele,
galopantes em ancas trémulas.
Tangiam seios plenos em manchas
negras, provocando esgares de furiosa
luxúria, soçobravam ausências de posse
amassadas no sofrimento da carne
como lapas em rochas cobertas
de mantos alvos, gélidos
nos sentimentos distantes.
Com mãos prendendo o tempo
deixando correr amores sem destino,
não quero assistir ao verde cais
que já foi meu porto. São horizontes
perversos esses acéfalos maquinantes.
De desencontros em ordeira cadência
cavando novos destinos anunciados,
de impaciência subsistem
nos amores que sempre duram,
mesmo que restem vagos desejos,
nos temporais que inundam a floresta.
Joaquim Vairinhos
quinta-feira, 7 de novembro de 2013
Reciclei casaco no contentor de roupa para pobres
colei camisas ao corpo mostrando a garganta
e um blusão de couro de vaca com um metro de sul,
de que me orgulho passeando quilos de ar de criança.
Na minha cidade de vez em quando nasce a esperança.
Na terra verde de primaveras
quis mostrar meus versos
de desejos insolentes,
que tormentos para a cabeça daquelas gentes!
Ai, como me fez falta o casaco e a gravata !
Se o céu é quente no azul doirado
e as ruas nas suas calçadas amantes,
que admiração fazer versos ardentes !
Se as musas admiradas pela minha arte
me inspiram a fazer versos alegres e contentes
só tenho que correr à loja para bordar aquela camisa
de corte conservador com macaquinhos no colarinho .
Joaquim Vairinhos, in...
Se do sol que brilha para todos já não sou eleito
Se dos olhares das estrelas não sou procurado
Se venho contigo dos tempos imemoriais da história
Se meu hoje não brilha na tua memória
Se meus amanhãs não estão nos teus horizontes
Pergunto : a quem entregaste minha alma
Que a sinto da tua totalmente fora …
Joaquim Vairinhos, in ...
Passa das seis você deve estar na cama
A noite visita você cedo na canseira do seu dia
Sua mãe tem pressa para seu acordar
São muitas as tarefas a ter em conta
Com palavras de confiança você se prepara
Colégio na mente cheia de lembranças
Ao longe o tempo que não passa
Aqui ele corre em água fria na espuma
Dos olhos cerrados soam vozes que apressam
Toalha roupa cobre seu corpo
Num café e bolo maltratado assobia :
Ah! Meu pai, como você demora
Nessa terra portuguesa de meus avós
E eu aqui neste Rio que me preenche
Ainda mais um dia…
Joaquim Vairinhos, 06/11/13
terça-feira, 5 de novembro de 2013
O mar de sono que submerge
me enterra neste fado
é parte do meu quotidiano
de carne e ossos num corpo amassado.
Quem o acode, quem o sacode
em veleiro naufragado
deste sono que se aproxima, profundo
em fins de vida intensa
com teorias, dogmas e poesias,
e outras coisas deste mundo.
Quem me salva deste único caminho
servidão marcada no destino
que enraíza nesta terra sem pão,
sem chão, sem grão,
onde germinam braços de solidão.
Joaquim Vairinhos
sábado, 2 de novembro de 2013
nesse ser soberano
de espirituais deuses,
onde a poesia
é carne e coração
que na mente divide :
prazer... sedução
amor... separação
em mágica unidade
de paraíso em inferno céu.
Quem te deu carne
esse júbileu eterno
que de intemporal
alimenta os dias de amantes
nas mãos de deuses
nascidos de sementes
aladas nos espíritos
das gentes.
Quem te deu ?
Joaquim Vairinhos
em madrugadas de sombras
a liberdade do abandono
triste é como as cadeias da obrigação
se me fazes falta
na dança dos ponteiros
agarro a esperança
se percebes que sou uma ilha
neste deserto de oceanos
navega nas quilhas das gaivotas
alimenta minha sede
com essas lágrimas de pérolas
na água dos teus olhos
fazes-me falta
não navegues para longe
outra vez…
Joaquim Vairinhos, in "No jardim dos Deuses"
almas cheias
entramos no deserto
onde calor afoga
mata desejos
tolhe movimentos
evita esforços
obriga reflexão.
Descida aos infernos
das mentes
caminhada dolorosa
na busca de oásis
verdes com frutos
silvestres
no horizonte.
De miragem em miragem
faz-se um caminho
na procura das delícias
de corpos frescos
concebidos para o amor.
Desérticos marchamos
sempre na conveniência
das delícias de encontros
construídos nos corações
sensíveis aos encantos
de corpos quentes
na ânsia de sobrevivermos
nos sentimentos.
Só o amor é redentor
refresca o dia
aquece a noite
adormece ao meia dia
no torpor longínquo
duma esperança
que se faz na tarde.
Joaquim vairinhos, in "No Jardim dos Deuses"
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