Um Sítio...Joaquim Vairinhos

Um Sítio...Joaquim Vairinhos
Poesia, Prosa e Música.

sábado, 29 de dezembro de 2012



2013

espera-se um ano sem brilho
cinzento pardo de cor indefinida 
daqueles dias meses de desilusão...

procuremos as coisas simples :

temos sol na retina dos olhos
mar cama de mágoas como colchão

temos letras alinhavadas em livros
de histórias romances poesia ficção

manhãs para erguermos
as taças da amizade tardes para
celebrarmos amores nos braços
da lua que anoitece

temos pés que caminham na
areia de mãos dadas
na sedução das flores
nos ramos
verdes dos jardins
e aquele
cálice de vinho casando conversas

temos um ombro amigo aconchegante
uns lábios de amor sempre presentes
olhares de crianças sorridentes

temos tristeza certamente
dancemos com ela
no arco íris da tempestade
aguardando tempos de bonança

porque ela virá mais tarde

joaquim vairinhos

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012


Contemplo os flamboiãns 
na baía da guanabara
poluída. Sua beleza
e cor enchem
meus pensamentos.
São minha companhia
que não me falta
na solidão que me cerca.
Outros caminhos
surgirão, outras baías
florirão...
talvez amendoeiras.

emilio casanova, "15 Poemas para Ti"

onde estará aquela luz
que passa

em suas cores quentes
aprendo sensações
mitigo dores
abro horizontes
calco sonhos sobre sonhos

é longa a subida
na íngreme ladeira
da montanha
verdejante de esperança

flores no caminho não

bailam pétalas
de todas as cores
na luz brilhante
da imaginação

serão cores
de amores futuros

serão arco-íris
de sedução

serão aves exóticas
tingidas de mil penas

serão asas doridas
de voos
do coração

serão ventos
levantados de ilusão

é terra é oceano
é fogo
é a vida em sua
explosão de amor
vestida de mil cores

emilio casanova, in "15 Poemas para Ti"

acima de características físicas
pessoas são sua sensibilidade
inteligência carater

nesta irrealidade da paixão 
enamorada
sem nunca se ver
sem nunca se tocar
sem nunca se cheirar

é estar a viver
um amor verdadeiro
espiritual
alimentado e iniciado
pela palavra do verso
pela poesia dos poemas

amar então
na certeza da chama espiritual
que tudo incendeia
e ilumina corpos
é a solução

sabe-se que a terra
não conhece a semente
assim será:
quando o espírito quer
o corpo consente

e agora:
deito-me com o espírito
na sustentável leveza da irrealidade
sonhando abraçado ao corpo
cheirando tua pele
na pureza da espiritualidade.


emilio casanova, in "15 Poemas para Ti "


(os natais do nosso descontentamento)

e, quando mergulhei
nas águas azuis do firmamento
senti que algo diferente estava a acontecer

as nuvens brancas em forma de novelos de lã
entravam pelas narinas
deixando um aroma de bagos de romã
inebriando meus sentidos
afugentando oxigénio do meu cérebro

sentia-me levitar acima do corpo
estrelas passavam rápidas errantes cadentes
desconhecendo minha presença
que cada mais leve se ausentava de um corpo
num natalício acontecimento

cantares não se ouviam orações também não
braços e mãos apertados em embrulhos
multicolores avançavam como ponteiros
de relógios eternos aguardando por sorrisos
efémeros de crianças que relevariam ou não
a obrigatória lembrança

e foi entre as nuvens brancas
que a mancha desumana apodreceu
deixando rasto de vergonha de ignomínia
transformando o mais sagrado da vida humana
na vil atividade profana de negociar o sagrado
olvidando milhões de olhares condenados
transportados num mergulho incontornável
de miséria de pobreza num horizonte
que se eterniza num tempo sem volta.

joaquim vairinhos, in "Tanta coisa para dizer"


agora terminado o encontro
das essências
iluminadas por pirilampos feéricos
embrulhadas em pacotinhos
numa curtíssima viagem interior

regressas bem nutrido
calórico silencioso
numa paz que te fez bem
disposto a esquecer
nesta semana que vem
até o ano acabar
as chatices que hão-de voltar

queres encarar o 13 com coragem
por isso te guardas te remetes
a reflexões que só esquecerás
quando as badaladas te
empurrarem para o tradicional
abraço : feliz ano novo...

assim será na paz do palácio
onde se fabricam as mensagens
a azáfama é grande
comem-se as últimas rabanadas
bebem-se taças de rubro tinto
as calças bem vincadas
circulam entre corredores
na busca das palavras
que serão ditas aos tele espectadores :
é preciso dizer que o 13
será o principio do fim
que o pão será multiplicado
o azeite não será importado
que o vinho não azedará
que enfim conseguimos

alegrem-se os que têm fome
sorriam os que têm dívidas
abracem-se todos como irmãos
banqueiros operários polícias
ladrões pobres e ricos
porque do palácio veio a voz :
conseguimos.

joaquim vairinhos, in "Tanta coisa para dizer"

Na mesa escura sente-se
madeira. Brilha.
Em toalha rendada da avó
copos cálices taças 
nas mãos brancas e doces
da filha
dançam. Umas em borbulhas 
outras tintas
poucas brancas em alvuras
de linho e côdeas louras.
Banquete sem fim em almas
douradas. Avó mãe filha neta
perpetuam a festa.
Guardam sabores mágoas
tristezas desejos amores.
Esperam a chegada um dia
dos seus redentores
que partiram. Haverá sempre
festa naquela porta aberta.

joaquim vairinhos, in "Só & Cia"


(as pedras das palavras)

quando busco a palavra nas pedras
silêncio torna-se atroz 
mudas elas ficam
nas suas memórias seculares

resistem às intempéries
como ausentes
sofrem quedas e caladas
curtindo suas mágoas

gritam silêncios em longas
vagas
que só os poetas os sentem
muitas vezes envergonhadas

calam suas ilusões
sempre na esperança
de que seus caminhos
que protegem
e passos
que as percorrem
encontrem lucidez
na mente dos homens

que as pedras das palavras
sejam lidas
entendidas
por aqueles que governam

joaquim vairinhos, "Tanta coisa para dizer"

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012



Também as pedras que piso 
brilham à luz da lua
quando visitadas
pelas águas da chuva

na mais triste escuridão
nossa alma ilumina-se
quando acordada 
pelas palavras sensíveis
pela melodia de sons

em envolvente harmonia

pela natureza...
em sua profusão de cor
num nascer do sol
num sol pôr...

deixa correr o tempo
florir os campos
semear o trigo no outono
colher os frutos de verão

enfim...



festejar a primavera
colher os sonhos
na plenitude dos desejos


guardados.




JV



emilio casanova, in " jardim dos deuses"

domingo, 16 de dezembro de 2012


navego nas palavras
oceanos 
rios
lagos lagoas
secam em virtuais
caminhos...
passo
volto a passar
de nada me serve

estás sempre no mesmo
lugar
sempre com mesmo
olhar
sempre com mesmo
sorriso...
e eu com desejos
de te abraçar
de te agarrar
de te lamber
para sentir
na tua pele
o sal do teu amor.

emilio casanova in " 15 Poemas para Ti..."

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012


bom dia
que o dia seja favorável
a teus anseios

na asa das palavras
procurarei os versos

que te merecem
quero ver teus olhos sorrirem

na busca de doces versos
estarei a teu lado
sentindo a nobreza do teu carácter
tua firmeza de bambu

na convicção de teus
ideais lerei na essência
de tua alma
que guardas com lealdade

na discreta timidez
que ostentas
abraçarei tua paz
inscrita nas orações
que anuncias

no teu olhar doce
meigo
descobrirei tua riqueza
que emerge
na simplicidade
da tua franqueza

no suave sorriso
com que me acolhes
mergulho no teu ser
invadindo teu mundo
pleno de sensibilidade

tudo isto farei
respeitando a mulher:
distinta discreta
inteligente e linda

bom dia

emilio casanova

Se ainda musas houvesse
voaria entre os olhos
das estrelas
procurando nas sombras
teus cabelos
para neles adormecer

sorrindo
no teu colo de mulher.
Ao acordar
vens comigo,
levo tua mão na minha mão
num labirinto coberto de verdes
flores de algodão.

Como são doces...esses instantes
que perduram na imaginação...

emílio casanova, 13/12/12, Rio.



Cântico IX

carinho meu
procuro teus olhos 
em novas matrizes
mas eles 
não olham para mim
escondem-se
será timidez

nada receiem

carinho meu
só quero
navegar neles
descobrir novos mundos
que pressinto 
existem em ti

carinho meu
deixa dobrar o cabo
avistar tua terra
quente
mergulhar
em tuas correntes

carinho meu
abre tuas portas
de mansinho
prometo
tratar tua alma
com desvelo

carinho meu
desfraldei as velas
navego em ondas
claras 
sem tormentas
com muito sol
ventos de feição

carinho meu
só preciso
que abras teu
coração

emilio casanova, in "Dos Cânticos", (IX)

terça-feira, 11 de dezembro de 2012



não sei se é amor ou desejo
por ti tudo desprezo
arrumo embalo escrevo
reescrevo inscrevo rasgo
deito fora
na inconstância das horas
que me perdem em agonia
de não te ter 

não sei se te quero
se te odeio por saber
que esperas
palavras minhas que não direi
porque prevejo e sei
que nosso encontro terá um fim
começado no início

foi sempre assim
tudo o que começa acaba
em fim 
para ti para todos para mim

triste história esta que não
pode começar
sabemos que vai acabar
só não entendemos como vai ser

ficamos sempre com mágoas
sempre a perder para ganhar 
vontade de voltar
tentar mesmo sabendo 
como tudo vai acabar

recomeçar
é a vida a ensinar
nós sempre a não aprender
para viver

decidi : vou te ver

emilio casanova, in "Só & Cia"
ilustração:Konstantin Serov

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Dave Brubeck Timeout (lista de reprodução)



Amo à  palavra
fonte coberta
carta geográfica
mapa
corpo escrito
inscrito
reescrito
linhas azuladas
veias
canais feitos
ilusões de florir
tempestades
incêndios breves
todas as formas
diagonal
invertida
pervertida
sem medos
viajo
dentro
na forma
viajo.


joaquim vairinhos, in "Só & Cia"
ilustração:foto de "Paz" de Olga Summavielle
Bem dentro do riso
sonho fogo ardente
carvão negro
reluzente
sentimento de lareira
transborda de olhos
quentes
surpreendente conforto
escorre nos lábios :
língua é ponte
amor vive entre
dentes
nas palavras segredadas.


joaquim vairinhos, in "Só & Cia"