Um Sítio...Joaquim Vairinhos

Um Sítio...Joaquim Vairinhos
Poesia, Prosa e Música.

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

amor amor amor

amor amor amor
de que tu és feito?
brigas zangas amuas
tão imperfeito amor...
esqueces voltas perdoas
tão perfeito...só tu amor
que sabor teria a vida
sem ti...AMOR

Emílio Casanova. in "Coisas do Coração"

Navego...

Navego...
sem chama navego...
navegar eu preciso...
com chama naufrago...
naufragar não preciso...
com tanto vento e tanto mar...
vou navegar...navegar eu preciso !

Emílio Casanova, in "ninguém compra

Maria


Maria


no brilho do teu olhar
percorro caminho iluminado
puro e alvo
que me leva a ti

no sorriso em flor
dos teus lábios
deixo-me conduzir
á procura de ti
em mim

na beleza das tuas mãos
afago a maciez da tua pele
seguro-as nas minhas
para te sentir

no néctar delicioso do teu corpo
que pressinto
mergulho contigo
no elixir amoroso
do belo perfumado tinto

nas veias do teu sangue
vermelho poderoso
percorri teus belos recantos
na busca incessante
dum amor que pressinto

contigo ergo
tudo que existe em mim
num cálice sagrado
saúdo o sonho
que me levou a ti

adorei-te meu amor
na mistura do espírito
de carinho com calor
na união comemorada
com prazer entrega
e suor

adorei-te
na eternidade desta noite

Emílio Casanova
Emílio Casanova
16/09/2011

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

         Fragmentos
               1
Os outros vêm em mim
o que não vejo.
               2
A face colorida da noite
desafia a força do dia.
              3
As águas navegam no mar.
              4
O transitório acende e cria
o definitivo arrefece e apaga.

Emílio Casanova

ninguém sente
o que o pobre sente
por mais que se seja
bem pensante

Emílio Casanova, in “ninguém compra”
Ousei levantar a voz ...erguer a cabeça
     ... não fazer parte da manada...
                                                    fui imprudente....
insolente.... por correr tal risco...
    ... teria sido melhor olhar para baixo, ( pesado pelas hastes )
                ... amochado como um cobarde .
Aqueles que se inclinam...  perscutando o horizonte ...
 ....sabem donde sopra o vento...
   ...  dobram-se para o chão... qual caniço sobrevivente...
                                                                      ... procurando estável situação.

(Emílio Casanova, sem título)

Insónia
no silêncio das minhas noites claras
faço longas travessias sem destino
nas esquinas escuras do meu quarto
revejo caras e corpos 
uns familiares outros opacos
deformados por nunca vistos
galopam sentimentos ritmados
ao compasso  do brilho dos néons iluminados 
que penetram as frestas das janelas
dobras de lençol ondulam meu corpo
almofadas envolvem meu rosto
tac tic tic tac dança o tempo
noite branca sem rosto quente
que aspiras da minha insónia
angústias arrependimentos
remorsos por falta de coragem
não sabes que a humana liberdade
é prisioneira da minha mente
odeio teu poder que me impede
de adormecer

Emílio Casanova , in “ninguém compra
Do ser ou não ser do cara ou coroa
começo a estar farto
do branco ou preto
do rico ou pobre não mais suporto
porque nos enrolamos de fatos  feitos
de ditos e não ditos...
Porque nos amamos e nos odiamos
porque do prazer transformamos
desprezo e mal dizer
será que está na gente amarmos e sofrermos
permanentemente  enquanto vivermos.
Que ódio me dá esta certeza
que traz a vida agarrada e presa
condenada de hipocrisia dia após dia.
Emílio Casanova, in “Graça”

A festa do silêncio


                                
Sinto os sons que me rodeiam
Na alvura dos silêncios das nuvens
Na espuma líquida do mar
Procuro encostas dos vales
Onde o sol costuma mergulhar.

A música do pensamento
Vem em festa o silêncio festejar
No ar espreguiço meus braços
Agarro os sons do momento
Na esperança de os ver dançar.

Sobem folhas rodopiam folhas
Crianças sussurram jogos de agarrar
Flores calam fundo amores
Reina  a nudez na hora
Beijos silenciam dores
Calai-vos,  chegou a voz
Da bela aurora.

Emílio Casanova, “Ninguém Compra”

Farrapos negros e véus
tapam o céu
rodopiam asas brancas
sobre o mar em chuva

Sem despedida em terra
o tempo voa na areia
com vento em companhia

Nas asas da nostalgia
Agosto está de partida
gaivotas não sabem dizer adeus
restam pela maresia

Emílio Casanova, in "ninguém compra"

Curvas

Meu amor,
no amor
não há retas
nem curvas,
as curvas
ficam retas
as retas ficam curvas.

(Emílio Casanova,"Coisas do Coração")

Tudo


Tudo trago no meu peito
Todas as pessoas que conheci
Todas as ambições que sonhei
Todos os erros que cometi
Todas as paixões que adorei
Todos os lugares por onde passei
Todos os portos onde desembarquei
Todas as ilusões que alimentei
Todas e todos estão sempre em mim
Bem dentro do coração
Tão cheio que está sempre aberto

Emílio Casanova, in “ Coisas do Coração”
trago em minha mão
na palma gravado
curvas lidas
por sinas de incompreensão
sulcos de solidão

trago no meu rosto
rugas de cansaço
que inundam meus olhos
buscando no seu traço
leitos de rios navegados
cúmplices de prazeres
na memória do tempo

trago na minha boca
o sabor amargo doce
dos teus lábios
feridos de solidão
marcados de ilusão
em ilusão

Emílio Casanova, in "Coisas do Coração"

de mim

De mim

Tive uma avó como toda a gente,
uma bisavó como ninguém
tinha saias até ao chão,
cheirava rapé,
nasceu no século desanove
e não tinha vintém.
Ensinou-me a acreditar
que deus não existe,
os santos também não,
que o diabo atenta,
e que fátima só
acredita o cristão.
Pediu-me  pra não roubar,
pra não matar,
pra não maldizer,
e nunca humanos, animais e plantas
desconsiderar.
Abriu-me portas de catedrais
palácios  de conviver,
deu-me asas de longo alcance,
visão de pássaros urbanos.
Iluminou-me os vales do saber,
contando-me histórias
de quem não sabia ler.
Amou-me como minha mãe,
despediu-se como se voltasse,
encontro-a vezes e vezes
nas retas da decisão,
Maria foi seu nome,
vai e vem nas vagas do tempo
nas curvas do coração.
Emílio Casanova, in “ninguém compra”.