e, quando mergulhei
nas águas azuis do firmamento
senti que algo diferente estava a acontecer
as nuvens brancas em forma de novelos de lã
entravam pelas narinas
deixando um aroma de bagos de romã
inebriando meus sentidos
afugentando oxigénio do meu cérebro
sentia-me levitar acima do corpo
estrelas passavam rápidas errantes cadentes
desconhecendo minha presença
que cada mais leve se ausentava de um corpo
num natalício acontecimento
cantares não se ouviam orações também não
braços e mãos apertados em embrulhos
multicolores avançavam como ponteiros
de relógios eternos aguardando por sorrisos
efémeros de crianças que relevariam ou não
a obrigatória lembrança
e foi entre as nuvens brancas
que a mancha desumana apodreceu
deixando rasto de vergonha de ignomínia
transformando o mais sagrado da vida humana
na vil atividade profana de negociar o sagrado
olvidando milhões de olhares condenados
transportados num mergulho incontornável
de miséria de pobreza num horizonte
que se eterniza num tempo sem volta.
joaquim vairinhos, in "Tanta coisa para dizer"
Nenhum comentário:
Postar um comentário