Sol brincava com teus cabelos senti seus longos dedos matinais primaveris, acariciando meus olhos sonolentamente preguiçosos, bocejei
na decisão, larguei lençóis, teu calor e, saí para a calçada bem pisada da adorável Copacabana
misturei-me com todos aqueles cariocas apressados em caminhar, caminhar por caminhar muitos deles sem olhar, a beleza do mar
eram carreiros humanos rotinados, autómatos de formigueiro
e, tão belas ondas do mar ali, tão perto do olhar
passei por Drummond eternamente sentado, por Dorival carregando seu violão, o poeta e o músico deliciados nas curvas belas das princesinhas do mar que se lhes juntavam a fotografar
levantei o olhar para longe fui até ao Pão de Açúcar invocando deuses e Iemanjá, lamentei a vã ilusão humana quando não temos...queremos, quando temos não vemos,
Copa bela Copa beleza como a tua não há.
Joaquim Vairinhos, Maio 2013
domingo, 29 de junho de 2014
nunca soube seu nome se era de planta pássaro ou lugar sei que tinha silêncio de melancolia cintilante nas íris do olhar
talvez maria como o oiro do trigo nos lábios da terra alentejana
quem sabe isabel nesse profundo olhar da sombra do vento que passa nas tardes redondas do sol pôr
apertei suas mãos como se fossem novelos de lã levei-as aos lábios como se acaricia água cristalina da fonte ou a pele suave de criança
soltei seus dedos para a liberdade das palavras que dançaram na magia do momento
soletrei esses versos como estrelas na cadência das batidas de sangue invadindo como chuva a planície do ventre
nuvens de seda brotavam dos lábios em murmúrios cúmplices de areia invadida pela energia das ondas brancas da maré cheia
a deusa que julguei ausente viajou na brisa suave de espumas livres nas esquinas da mente
Joaquim Vairinhos, in "Confissões" Foto de Fernando Romão-Seara Alentejana.
correm aqueles pêndulos em suas pontas de marfim
inscrevem nas águas palavras ditas sem fim são seios de verdes folhas castrados em prazeres de lágrimas
são lábios em ramos de cetim rios de florestas sem mágoas :
se corpos se liquefazem nas tranças molhadas
se bocas bebem fogos daqueles mares de oceanos
se chuvas cobrem sombras dos princípios iluminados