Um Sítio...Joaquim Vairinhos

Um Sítio...Joaquim Vairinhos
Poesia, Prosa e Música.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012







Desci ao centro da cidade na manhã fria
para tratar das quotidianas realidades.
Vi rostos enregelados com ar apressado,
sem tempo de conversas de amigo.
Como mudou a minha cidade
feita de tempos sem tempo
para a cavaqueira do riso,
do dichote, da anedota, da história imaginária
que entretinha as horas do nada fazer.
Na procura do almoço pelas horas da crise
aportei à tasca do Analide, dos petiscos
apaladados a poucos euros a dose.
Atirei-me prazeroso a uma cabidela
de galinha da serra.
Sentado na comunidade de mesas corridas,
juntos na afinidade de belos petiscos,
saborosas comidas, metemos conversa
com ocasionais amigos.
Surge a cada garfada a análise da vida,
dificuldades anunciadas, malfadadas,
governantes bem intencionados
de projetos longe das ruas,
das tascas, da quotidiana realidade.
Conversa que vai... das palavras
que voltam, surgem filosóficas
especulações do dia, das políticas,
da saúde, das finanças.
Surpreendentes análises de
iletrados, na rua e nos campos formados.
Fascinam-me pelos ajuizados
conceitos construídos na partilha
da experiência com as peripécias
da vida.
Sabes, enquanto o homem respeitou
a natureza, seus ciclos, suas regras
lucro não era deus.
Governávamos nossos dias,
nossas casas e família.
Sabes, quando me atropelaram,
atirando na valeta, restei
morto, nesse estado estive
sem sentir dor qualquer,
sem ouvir, sem nada dizer,
num silêncio absoluto de prazer.
Sabes, quando no hospital
acordei, feliz fiquei. Tempo curto
essa felicidade invadida pela dor
e desespero.
Ainda hoje recordo com saudade,
apagão
que me levou até à eternidade.
Chegados aos cafés cada qual
vai pelo seu lado com a certeza
da agradável sintonia entre
doutores, camponeses e assalariados
pela excelente companhia num tradicional
almoço servido com muita filosofia.

emílio casanova

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